Bom Partido - Kiko Continentino

Olá a todos!
 
Essa semana temos a contribuição de uma referência da Música Brasileira atual - Kiko Continentino, pianista, tecladista e compositor, atua no cenário artístico como instrumentista, arranjador e produtor musical e que desde 1997 integra à banda do Cantor Milton Nascimento. Em seu extenso currículo estão nomes Caetano Veloso, Gilberto Gil, Djavan, Leny Andrade, João Bosco, Maria Bethânia, Seu Jorge, Leila Pinheiro, Guinga, Jane Duboc, Edu Lobo, Chico Buarque, Paulo Jobim, Nelson Ângelo, Emílio Santiago, Marcos Valle, Toninho Horta, Erasmo Carlos, Claudio Zoli, Arthur Maia, Pepeu Gomes, Dalto, Ivete Sangalo, Fernanda Abreu, Maria Rita Mariano, Nivaldo Ornelas, Mauro Senise, Durval Ferreira, Silvio César, Pery Ribeiro, Os Cariocas, MPB4, entre vários outros.
Na música Instrumental, o vejo como uma referência para todos nós, composições próprias belíssimas, uma performance marcante, interpretações únicas e improvisos que nos prendem do início ao fim.
A transcrição desse post foi disponibilizada pelo próprio Kiko Continentino, uma música de seu primeiro disco instrumental "O Pulo do Gato" lançado em 2001 pela Niterói Discos.


Essa faixa conta com um time um tanto especial, O próprio Kiko descreve essa: "meu irmão mais novo, Alberto Continentino arrasou no groove do baixo e meu irmão do meio Jorge interpretou a melodia no alto (sax que ele hoje em dia deixou de lado - se encontrou no tenor - mas já foi seu principal instrumento) e me deu valiosa ajuda nas flautas que timbraram muito bem, ora com o rhodes, ora com o hammond - que usei. todos os dois, instrumentos originais (não é som de teclado não!). o timbre de piano acústico, sim, é de teclado: módulo da kurzweill, Balla na batera, a guitarra do Glaucio e a percussão do Marçalzinho deram o toque de swing final à música".


Para acessar a partitura em PDF basta clicar no link abaixo e salvar ou imprimir o documento:

https://docs.google.com/viewer?a=v&pid=sites&srcid=ZGVmYXVsdGRvbWFpbnx6ZWNhcXVpbnRhbmlsaGF8Z3g6NWQyODgwZGJmMjVmNDM4Mw&pli=1


A gravação é simplesmente envolvente, ficamos sempre à espera do próximo compasso, o que é uma grande surpresa a cada momento para o ouvinte.
Na introdução temos uma convenção com um deslocamento ritmico muito peculiar, que nos surpreende até mesmo quando vemos escrito... talvez alguns poderiam, em um  primeiro momento de escuta, pensar que as notas estão no apoio, mas o jogo de síncopes se mantém reforçando o deslocamento, e por isso causa essa sensação, mas com a entrada de outros elementos, percebemos a sincopação com mais força e o balanço "swingado" da intro... Genial!!!
O Kiko nos falando sobre a música nos revela outras facetas a respeito dessa composição: "Essa introdução tem muita história. já ''derrubou'' vários músicos excelentes, que não conseguiram entendê-la direito,  "sentir" onde está o "um" (o tempo um); outros, perceberam de primeira. é uma coisa curiosa. alguns assimilaram naturalmente, outros não. Independente da qualidade cada um (todos, músicos fantásticos). ainda é um mistério para mim. mas a verdade é que, inconscientemente, criei um "jogo de esconder" o tempo um. O tempo forte da linha de baixo na introdução cai sempre no tempo dois e nunca no um. aliás, contando em 4/4 o único tempo que é tocado é o dois, o resto, é tudo pausa. esse lance de “esconder o um” é um tipo de recurso muito usado pelo Djavan - mas em outros contextos. Eu fiz de outra forma, também intuitiva. O próprio Balla teve alguma dificuldade inicialmente, mas brilhante baterista que é, assimilou e gravou lindamente essa faixa - que pretendo regravá-la algum dia. A parte final em Db7 lembra um pouco a intro (em sol menor), só que muito mais fácil e assimilável de tocar. ritmicamente, a intro é que ainda permanece um mistério. já gastei horas de ensaio com músicos de alta performance que não conseguiram entender intuitivamente o groove do baixo e onde ele ‘se encaixa’ no compasso... acabamos desistindo de tocar a música (e isso aconteceu mais de uma vez)"... 

A música tem uma levada poderosa que mistura influências do samba funk com o Partido Alto, que sugere o nome da composição.  "A harmonia desce e sobe à partir de lá menor – mas no campo modal de sol menor, criando uma impressão flutuante (onde está a "tônica"?), até que resolve num acorde de mi bemol maior (e na segunda vez, passa por re bemol maior antes de preparar pro início da parte B, em si bemol)". O Am11 seguido por um Ab7(#11) que pode ser entendido como o
 IIm subV7 do Gm11 que aparece na sequência. Depois o Ab7(#11) que se segue pode ser um acorde de passagem, mas enarmonizando poderia ser interpretado como um E7 alterado com o baixo na terça G#

O Kiko ainda acrescenta: "a melodia se apoia em décimas-primeiras dos acordes menores – coisa pouco usual ... realmente seria bem interessante se fazer uma análise mais aprofundada nessa cadência de acordes. Para alguns , muito difícil de improvisar, para outros, não. Pessoalmente, hoje, curto improvisar ali.
O solo coube ao sax alto, Jorge achou a harmonia ‘ingrata para improvisar’ na época. Acho que hoje, ‘destruiria’ se fosse refazer esse solo – mas que já havia ficado bom na ocasião.

A parte B é uma espécie de chôro (ou samba-chôro), porém desenvolvida sobre pentatônica. algum tipo de influência do Coltrane, certamente; e talvez do Chic Corea em alguns trechos. Ela transita no campo harmônico de dó menor, pentatônica de si bemol, brincando com várias possibilidades de resolução. até fechar na parte C em re bemol, voltando ao samba-funk / partido alto que remete à intro".
Destaco a intrumentação escolhida para a execução da melodia da parte B que timbra fantásticamente bem. A melodia principal com flauta e Fender Rhodes na primeira vez e na segunda a dobra da flauta é com o piano acústico (atenção galera dos arranjos saquem essa intrumentação, porque é mais uma aula). Atentar para os contra cantos de piano acústico e contrabaixo e o reforço dado pelo sax alto dando uma energia fantástica à performance. Uma instrumentação muito bem pensada e funcional, sem falar que as performances dos músicos são de ponta...

No final da faixa, algo que nos chama atenção, o Kiko segue falando... "deixei um comentário do Balla que saiu de forma muito natural, espontânea, como uma comemoração por uma faixa, inicialmente difícil, que ele acabou dominando. Carlos Balla, além do músico maravilhoso que todos conhecem, é uma pessoa admirável. foi um imenso prazer o convívio com ele na época do Djavan e em outras gigs e gravações que tive a felicidade de dividir com o cara. muito me alegrou, logo depois da gravação desse disco, ver que ele - capa da revista Modern Drummer - incluiu 'O Pulo do Gato' na sua discografia selecionada e me disse depois ter muito orgulho de ter participado desse que foi o meu primeiro cd solo (Balla participou de 3 faixas).
Esse é um tema que gosto de tocar até hoje - e às vezes ainda toco por aí, meu amigo Rogério dy Castro tem interpretado muito bem nas apresentações que fazemos em igrejas"

O áudio da música Bom Partido está disponível para vocês no link abaixo:

https://sites.google.com/site/zecaquintanilha/musics


 Para experimentarmos um pouco mais da música
 desse fantástico pianista, vai um vídeo do youtube de um Duo de Kiko Continentino (piano) e Paulo Russo (Contrabaixo Acústico) no SESC Paulista em Março de 2007. A música, Vestígios, mais uma do Disco "O Pulo do Gato". Mais uma performance genial...
 Vale a pena conferir:


Deixo aqui um agradecimento super especial a você, Kiko Continentino, que se dispôs a ceder   a transcrição de sua música, suas falas, enriquecendo consideravelmente o post.
Muito obrigado Kiko, pela sua música,
grande talento e pessoa de grande coração que você é!
Uma referência...


Galera, espero que curtam,
Até a próxima!

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Caia Fogo - Fernandinho

Me Aproximou

Cifras do DVD Até Transbordar - Gabriela Rocha