O Fantástico Mundo dos Modos Gregos (Parte I)

Fala Galera!

Bem aderindo a uma sugestão de um amigo do facebook, o post dessa semana tratará sobre alguns aspectos dos modos gregos. Bem, como esse assunto é muito extenso decidi escrever em duas partes. A primeira falando dos modos gregos como escalas geradoras de melodias com centros modais e seus respectivos campos harmônicos, e na segunda parte falar sobre um pouco sobre o uso dos modos gregos na improvisação.

São coisas bem diferentes e que confundem muita gente... Mas espero que essa viagem ao "Fantástico Mundo dos Modos Gregos" suscite muitos esclarecimentosquestões para estudos futuros.
Iniciamente, esses modos podem ser chamados de outros nomes... Modos Litúrgicos, pois eram usados na música da Liturgia de culto da Igreja Católica na época. Ou Modos Gregorianos referindo-se ao Papa Gregório I o qual preocupou-se em organizar a música Litúrgica da Igreja, ou Modos Gregos, que segundo Bohumil Med, estes julgavam-se corresponder aos antigos modos de Regiões da Grécia.
Essa abordagem dos modos não tem muito haver com improvisar no IIm7 com o dórico e no V7 com o mixolídio... pois nesse caso o IIm7 e o V7 estão presos a um centro tonal, e o mais interessante será saber que tensões os modos provocam sobre os acordes. Portanto este olhar é um olhar tonal sobre os modos (o que trataremos na segunda parte)...
Os modos gregos, são os modos Jônio, Dórico, Frígio, Lídio, Mixolídio, Eólio e Lócrio. Cada modo possui disposições intervalares particulares, as quais caracterizam o modo. Alguns modos possuem o que chamamos de notas características, como o próprio nome diz, caracterizam o modo ou o diferencia um dos outros. Por exemplo no modo lídio a nota característica é a #4. Cada modo possui uma sonoridade específica e particular, por exemplo na música nordestina é muito comum encontrar o modo lídio e mixolídio, os responsáveis por essa sonoridade (na grande maioria das vezes, mas sem generalizar).

Agora nosso foco está no universo modal... ou chamado Modalismo. Quando tocamos a escala de dó maior, possivelmetne sentiremos um repouso na tônica da escala (dó). Essa ideia de repouso também é presente nos Modos Gregos, mas pelo fato deles terem outras disposições intervalares entre seus graus, temos "sabores", "cores" ou "sensações" diferentes o tocarmos com essas escalas.
Para exemplificar o que estou dizendo comparem a disposição intervalar de uma escala maior, também chamada de Modo Jônio, com a Escala do Modo Mixolídio na tabela abaixo.



 Observem que a sequência de intervalos entre os graus são muito semelhantes, mas com uma diferença no final. Em realção à tônica da escala temos uma 7M  (sétima maior) no modo Jônio e uma 7 (sétima menor) no modo mixolídio. Se considerarmos o centro em Ré teremos as seguintes escalas:

Ré Jônio -       ré mi fá# sol lá si dó#
 
Ré Mixolídio - ré mi fá# sol lá si


Dentro do modalismo essas escalas podem ser geradoras de campos harmônicos, partindo da superposição de terças. Veja abaixo:


Campo Harmônico do modo Jônio em tríades (igula ao Campo Harmônico Maior Tonal)

    lá       si       dó#     ré     mi      fá#    sol
  fá#      sol     lá       si     dó#     ré       mi
       ré       mi      fá#     sol     lá      si      dó#  

         D      Em    F#m    G      A     Bm   C#m(b5)



Campo Harmônico do modo Mixolídio em tríades


       lá       si          dó        ré      mi     fá#     sol
      fá#     sol         lá         si      dó    ré       mi
       ré      mi         fá#      sol      lá      si        dó

      D      Em    F#m(b5)  G      Am     Bm     C

 Assim, uma música para "soar" modal, podemos ter uma melodia baseada em alguma escala modal, ou mesmo uma harmonização pode sugerir um clima modal. Vou dar dois exemplos, Dindi, do Tom Jobim, a partitura está disponível no link abaixo:

https://docs.google.com/viewer?a=v&pid=sites&srcid=ZGVmYXVsdGRvbWFpbnx6ZWNhcXVpbnRhbmlsaGF8Z3g6NDNkY2I3MDdlZjNhNzMx&pli=1



Note os primeiros quatro compassos. Não há nenhuma alteração que pudesse sugerir uma sonoridade modal, mas a harmonização sugere um clima mixolídio, graças ao G7M no tom de La Maior, sugerindo a sétima menor, nota esta característica da escala de Lá Mixolídio. Assim, uma harmonização pode sugerir uma sonoridade modal.

 O segundo exemplo, Ovo do Hermeto Pascoal. A partitura está no link abaixo:

https://docs.google.com/viewer?a=v&pid=sites&srcid=ZGVmYXVsdGRvbWFpbnx6ZWNhcXVpbnRhbmlsaGF8Z3g6NWIxZTNkNjA5MWIwMzM3MQ


Note a armadura de clave indicando a tonalidade de B maior, porém durante toda a música, a nota lá# é alterada pelo bequadro soando assim lá natural. Ora, lá é a sétima menor, e assim se agruparmos todas as notas que aparecem na música temos a seguinte escala:

   
 si dó# ré# mi fá# sol#


Assim o centro está em si, mas alguém poderia dizer que a essa escala é Mi maior começando da nota si. Estruturalmente, isso seria verdade, mas a percepção da melodia não nos leva a repousar no Mi, mas sim no Si, indicando portanto o centro, e nos levando a dizer que essa música está construída sobre o Modo de Si Mixolídio.
O vídeo abaixo é um encontro Histórico de Hermeto Pascoal com Sivuca, a música Ovo, aparece na segunda parte, destaque para uma letra cantada pelo Hermeto de altíssimo nível virtuosístico. Vale a pena conferir o vídeo inteiro!


Isso parece ser um pouco confuso, mas o que pretendo aqui é questionar o mito de que os modos são apenas inversões das escalas... Isso pode ser uma redução da  percepção e entendimento de determinadas músicas.
No próximo post falaremos dos usos desses modos na improvisação, e aí sim, poderemos falar de inversões de escalas, mas que apenas estruturalmente se relacionam com os modos gregos. Trata-se de uma outra abordagem a qual discutiremos em breve.

Até !
Bom estudo!


Comentários

  1. Prof. Vc poderia citar algumas musicas evangelicas que utilizam os modos gegos???

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